Mundos Paralelos - Capítulo 8-8.3

8-8.3
5 de agosto.

Aldo e as garotas partiram de Angopak atrás da pista da comunidade fundada pelos Primeiros, os astronautas do século passado.
Em minutos, a Antílope chega à profunda fenda conhecida nos mapas fornecidos por Sinh-Praa como Magta Haunebu. É um momento emocionante, pousaram no fundo da fenda e viram as portas de ferro.
Em cima, gravado na rocha; um enorme símbolo sânscrito de vida feliz, além de inscrições em rúnico, que Inge, nórdica, consegue ler:

–Neu Deutschland, Nova Alemanha.

Abrem as portas e descem por uma rampa até uma tenebrosa galeria de túneis.

Coberto por uma camada de pó das tormentas de areia de mais de sessenta anos; há móveis, roupa espacial antiquada e instrumentos desconhecidos. O abandonado lar dos Primeiros era um local triste, arrepiante como uma catacumba. Havia diversas entradas na rocha, algumas eram quartos com beliches de madeira local.

–Eles estiveram muito tempo aqui.

–Sim, Regina. A atmosfera é quase respirável, igual à de Angopak.

–Sofreram a inclemência do clima, apesar de terem se adaptado aparentemente bem – disse a jovem – Há uma lareira com lenha queimada. Isto deveria ser a sala de estar. Pelo jeito levaram tudo. Ainda há pregos nas paredes...

–Levaram colchões e cobertores – disse Inge observando os beliches – mas na cozinha ainda há estantes, fogões, panelas...

–Estragadas – disse Aldo após examiná-las – Quando partiram, abandonaram o que não servia. Realmente foi uma partida organizada.

–Não deve ter sido fácil morar aqui, foram muito corajosos – murmurou Inge, intimamente admirada pela valentia e audácia dos seres que ali moraram.

–Aqui há uma enfermaria, Aldo! – informou Regina entrando por uma porta de madeira num local assustador e iluminando-o com a luz do traje.

Inge e Aldo entraram e viram umas camas de exame e uma com suportes para
pernas, o que fez Inge exclamar:

–Uma cama de parto!

–Tiveram filhos – observou Aldo – queria que Valerión visse isto!

No teto viram umas rudimentares instalações elétricas que indicaram que houve um mínimo de conforto.

–Deve haver um gerador e baterias – disse Aldo.

–Será que ainda funciona?

–Duvido, Inge.

–Poderíamos procurar – disse Regina entrando num corredor e abrindo uma porta de madeira. Era uma sala vazia. As lanternas mostraram um cômodo com estantes vazias, ainda com as marcas de pó dos livros que uma vez estiveram e uma mesa vazia de máquina de escrever.

–Recolheram os livros – disse Aldo.

–Menos este – disse Inge.

Numa estante lacrada; de cristal meio opaco por causa dos anos, havia um livro de capas de couro com a data em alemão gótico:

Logbuch II, Sonntag 20 Januar 1946.

–O diário de bordo! – exclamou Inge.

–Domingo 20 de janeiro de 1946, Logbuch II, uma cópia para quem viesse depois. Isso é fantástico – disse Regina – O levamos?

–Claro que sim – respondeu Inge.

–Não – disse Aldo – Prometemos a Sinh-Praa que não tocaríamos em nada.

–Aldo...! – Inge fez transparecer seu desencanto.

–Garotas curiosas! Até em Marte? Isto é um santuário para os angopakis!

–Mas eles não vão saber! – insistiu Inge.

–Estou ardendo de curiosidade, querida, mas não seria honesto.

–Mas, Aldo...! – Regina estava a ponto de chorar dentro do seu capacete.

–Querida, se isto aqui ficou sessenta e sete anos sem ser tocado, bem que pode esperar a visita de Valerión. Nosso doutor é para nós o que Sinh-Praa é para eles. Quando ele chegar, Sinh-Praa não lhe negará uma visita científica.

–Até Valerión chegar, Aldo...! – choramingou Inge.

–Sim, meninas. Até lá. Além do mais, há mais o que fazer do que remexer nas relíquias dos nossos anfitriões. E há outra coisa, Regina. Eles podem estar a nos testar para ver se cumprimos nossa palavra. Os alemães da Haunebu 3 também fugiram de um mundo em dissolução... Como nós.

–Sim – disse Regina desconsolada.

–Concordo com tudo – interveio Inge – E penso que não devemos revelar a localização deste local aos outros.

–É uma boa medida – concordou Aldo – ainda não estão preparados para saber disto, por isso não trouxemos Boris conosco, está ocupado surrupiando tecnologia e não quero ocupar sua mente com o que só interessa a nós por enquanto até Valerión chegar. Vamos fechar tudo e retornar a Angopak.

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