Mundos Paralelos - Capítulo I - 1.23

1.23
Finalmente, chegou o dia da partida.
–Quando vocês estiverem no espaço, eu já não estarei na Antártida – disse o Dr. Valerión, já vestido com seu traje espacial e ajudando Aldo a colocar o seu.
–Para onde vai?
–Para a minha empresa INDEVAL Motores, na Cara Oculta. Vou continuar o projeto baseado no motor de impulso alienígena. Planejo uma nave maior que inclusive será mais veloz e terá mais raio de ação do que as naves da classe Antílope.
–Já imaginou se encontrássemos os Alfas Cinzentos em Marte?
–É por isso que vocês vão bem armados, rapaz. Não sabemos o que vão encontrar por lá. A ditadura sabe muita coisa que nos oculta.
–Temos que agir quase no escuro com eles.
–Não te preocupes mais com isso. É preciso que encontres um local bom para nós, onde possamos reconstruir nosso estilo de vida e esquecer deste mundo satânico, materialista e perverso... Valha-me o pleonasmo!
–Fico preocupado com você, Valerión.
–Estarei bem, não te preocupes; eu já disse. Terei muito trabalho na Lua. Reconstruirei a base militar e enviar-te-ei fábricas desmontadas do que necessitamos. Mas para isso preciso que te estabeleças em Marte de maneira firme e segura. Não posso te ajudar quanto a isso. Dependerá unicamente de ti que tenhamos uma cabeça de ponte confiável lá. A Lua não tem recursos para uma longa frente de batalha. Marte pode tê-los em abundância e está bem longe. Eles não podem nos pegar lá. A Lua, como sabes, está ao alcance de mísseis. Não é segura.
–Sei. Deveremos ser implacáveis. Marte será nosso, custe o que custar.
–Sim – disse Valerión – Aliás, poderia dar-me uma carona até a Lua?
–Claro.
–Fixem o avião no container! – disse o cientista, pelo telefone de pulso.

Uma hora depois, embarcaram no veículo que os levaria à plataforma.
Lá fora, o frio era insuportável. Embora a Antílope pudesse decolar para o espaço como um avião comum, desta vez decolaria verticalmente como um foguete, já que rebocaria o imenso container, ajudada por dois foguetes auxiliares. A nave, coberta de neve, estava encaixada pelo ventre no container e aos lados deste, os dois motores foguete, como se fosse um antigo shuttle do século passado.

Os homens desceram do veículo e entraram no elevador, enquanto os preparativos eram terminados. O avião espacial de Valerión já tinha sido introduzido nos encaixes correspondentes do container. Uma vez no topo, entraram pela escotilha superior de emergência, e se dirigiram à ponte com uma certa dificuldade, devido à posição vertical da nave.

–Doutor, vá para meu camarote e amarre-se na minha poltrona.
–Sim, capitão.
–Aldo para Torre! Como está a área?
–Limpa – respondeu Elvis, de plantão na torre – o pessoal está nos refúgios.
–O céu está limpo?
–Apenas nossos caças de patrulha. Há aviões inimigos na área, desesperados.
–Sem dúvida. Vamos dar o nosso show.
–Vão para as estrelas com a benção dos Deuses!
–Dos Deuses do Bem, Elvis. Marcos; dê o contato. Já vamos tarde.
Marcos girou a chave e levantou os interruptores dos tubos principais e dos auxiliares. Dez luzes vermelhas acenderam-se; passando para amarelo e para verde.
–Ligue o antigravitator, Marcos.
–Antigravitator ligado.
–Bem. Todos amarrados?
–Sim – responderam todos.
–Vamos decolar – disse Aldo apertando o botão de partida.


Os motores rugiram e a nave estremeceu-se. Os tubos de Vitrocerâmica ficaram incandescentes; ofuscantes quanto uma explosão atômica, vaporizando o gelo e a neve. Aldo empurrou os aceleradores e a nave elevou-se verticalmente, deixando uma esteira de fumaça, dando espetáculo para o inimigo das redondezas; mantido à raia pelos caças antárticos.
No visor da frente o azul transformou-se em preto, aparecendo estrelas. Em seguida brilhou a luz verde no painel e Aldo largou os aceleradores.

O silêncio da ponte, só interrompido pela respiração de todos nos fones dos capacetes, foi quebrado pela voz de Aldo:
–Mais uma vez estamos em nosso elemento.
–Graças aos Deuses – suspirou a sacerdotisa odínica.
Admiravam o espetáculo; quando a porta da ponte abriu-se de repente e entrou uma figura grotesca, flutuando como bolha de sabão. Valerión perdera o apoio das solas magnéticas e não conseguia voltar ao chão.
–Quê houve, Doutor? – disse Lúcio soltando uma risada.
–Me ajudem a descer, liguem a gravidade artificial, façam algo! Por Júpiter!
Lúcio estendeu uma mão ao doutor. Marcos ligou a gravitação artificial e Valerión foi caindo lentamente no solo.
–Não é que eu ache duro demais o beliche, minhas crianças, mas não me seduz a idéia de passar a viagem toda no ar.
Todos riram, enquanto Nico anunciava:
–Atmosfera e pressão normal, sem goteiras. Podem tirar os capacetes.
–Certo – disse Aldo – Nossa jornada se inicia, amigos.
Audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve – disse Valerión.
–Esperemos que sim – respondeu Aldo sem entender a citação.
*******.

(Continua) Click nas imagens para aumentar

Mundos Paralelos ® – Textos: Gabriel Solis - Arte: André Lima.






Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Divagações sobre 2012

Visita Sarracênica a São Paulo.

Poderia ter sido assim...