Mundos Paralelos - Capítulo 3 - 3.1

CAPÍTULO III
Ponto de Apoio, 20 de abril de 2013.
Amanhece. Assim que o sol se manifesta, o orvalho, congelado na fuselagem e as asas, evapora-se com os primeiros raios do Sol, pequeno e distante. Sobre as construções cobertas de gelo, montadas no dia anterior, os raios do sol adquirem estranhas tonalidades. A areia vermelha brilha inusitadamente com a geada que derrete e evapora rapidamente. As plantas encolhidas sobre si mesmas durante a noite se abrem ao calor do sol, enquanto pequenos seres noturnos deslocam-se correndo, pulando ou arrastando-se, e se ocultam em fendas embaixo de pedras ou em buracos do chão. Outros cavam buracos e neles enterram-se para esperar a próxima noite.
Dentro da Antílope; no aconchego dos beliches, os terrestres estão à ponto de despertar da primeira noite dormida em Marte. Neste Ponto de Apoio muito bem escolhido; 71 kms ao norte do equador, a nave já tinha sido descarregada e o material estava no chão. No agitado dia anterior, abriram as portas de carga, montaram os guindastes e descarregaram os materiais de construção e a retroescavadeira. Os antárticos montaram os três primeiros iglus do acampamento; depósito, laboratório e alojamento; construídos de vitroplast mole enchido com ar, coberto de pranchas de metal fino soldadas e cobertas com cimento rápido misturado com areia e pedras do solo local. Depois alisaram seiscentos metros de pista com a retroescavadeira, espaço suficiente para o pouso das naves que viriam. O acampamento tinha provisão de água e comida para vários meses, sem contar com a carga do contêiner em órbita. Eles dormiram a primeira noite dentro da nave, porque os iglus não estavam totalmente solidificados. Os antárticos estavam cansados do trabalho e deixaram apenas o computador de vigia na noite com os sensores externos em prontidão. Mas a noite foi tranqüila e nada imprevisto aconteceu. Todos dormiram uma noite sem sobressaltos, uma noite inesquecível. Aldo adormecera tarde, olhando às sombras duplas da noite nas construções iluminadas pela luz das luas através da clarabóia redonda junto à cabeceira do seu beliche. Acordado pela luz matinal, abriu os olhos e demorou alguns segundos para lembrar onde estava.

–Bom dia, mundo novo!
*******.

–Antes de começar a explorar vamos colocar os postes e a fiação do gerador de escudo em torno do acampamento para deixar o território invulnerável – disse Aldo, sentado à mesa com uma xícara de café nas mãos, na cabine dos homens.

–Sim... Claro, se o que você disse ontem ao Elvis não está valendo, de tirar a nave daqui e procurar um local mais coberto. A radiação ultravioleta é alta neste local.

–Estamos bem protegidos pelo vitroplast, Nico – replicou Marcos.

–Creio que aqui está bem – concordou Aldo – O que vocês acham?


–Qualquer ponto duas léguas em volta está bom – respondeu Lúcio – estamos
no meio de um deserto isolado e inóspito. Não acredito que os marcianos virão aqui a nos incomodar. Além do mais, as câmeras dos satélites vigiam o terreno 24 horas.

–O computador elaborou um mapa – disse Marcos – poderemos orientar-nos com o GPS. Se for preciso colocaremos mais satélites. Há mais alguns no container.

–Vamos montar o escudo. Depois devemos ter certeza que ninguém nos viu.

–Proponho uma circunferência de dois quilômetros – disse Lúcio – devemos ocupar bastante terreno, Aldo. Há suficiente material para rodeá-lo. Nesse espaço podemos construir pavilhões e umas três pistas para as naves que virão.

*******.

Mundos Paralelos ® – Textos: Gabriel Solis - Arte: André Lima.

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