Mundos Paralelos - Capítulo 9-9.3

9-9.3

Aldo não era nada diplomático, mas devia apurar o amargo cálice em nome do protocolo. Após duas horas de conversa nesse teor, cansou de lidar com esses seres tão desconfiados, mas finalmente teve a oportunidade de oferecer seu ferro:



–O metal que tenho para negociar é vital para vocês. Nossa aliança e amizade podem começar hoje; já que vocês acreditaram e construíram o astroporto. Eu fabrico as naves, treino os pilotos e vocês virão a ser os primeiros astronautas do mundo.


Lon Vurián traduziu estas palavras e eles se maravilharam ao saber qual era o carregamento da nave e a quantidade. Lon Der-Sur, perguntou em espanhol:


–Você disse negociar?


–Sim. Quero fazer a primeira de muitas compras.


–Você deve de saber que não usamos o mesmo sistema de troca que vocês usam no seu mundo, presumo – disse Lon Der Sur.


–Presume corretamente.


–O que vai querer em troca?


–Armas e munições.


Lon Vurián ficou pálido e suas pupilas contraíram-se. Seu nariz dilatou-se à procura do ar rarefeito. Lon Der-Sur não demonstrou emoção. Ficou em silêncio, olhando os rostos dos seus conterrâneos que não entendiam o diálogo em espanhol.


–Para quê vocês querem essas armas? – perguntou Lon Der Sur.


–Preciso armar meu pessoal com as armas simples e leves que vocês fazem e também meus aviões de caça e naves com os canhões de energia phaser.


–Se vocês têm armas poderosas, por qual motivo querem as nossas?


–Meus técnicos disseram que vossas armas são mais leves, práticas, certeiras, simples e fáceis de fabricar do que as nossas, que são pesadas, ocasionam demasiada destruição, fazem muito barulho e não pretendo fabricá-las aqui por enquanto.


–Não entendo por quê vocês já não fabricaram armas como as nossas.


–Temos lasers, mas são pesados e complicados, devem ser instalados em naves porque precisam muita energia. Vossos phasers são leves, eficazes e fáceis de manipular. Suas células de energia são menores e mais eficazes do que as nossas, que são radioativas, instáveis e perigosas. Além disso, seu equipamento já está fabricado e sabemos que vocês têm uma fábrica no Magta Ers. Não posso ocupar meu pessoal nisso. Fabricamos aviões de caça, que são mais urgentes. Vocês bem que podem fabricar nossas armas e outros equipamentos para a guerra que virá.


–Temos uma fábrica antiga, mas eficiente para nossa defesa – disse Lon Der-Sur – Contra quem serão usadas? Contra seus inimigos no seu mundo?


–Sim.


–E se nós recusarmos?


Aldo perdeu a paciência e falou em gopaki, baixinho, no ouvido do outro:


–Nesse caso, bombardearemos esta cidade, ocuparemos a fábrica que está na beira do canal, deixaremos vivos alguns poucos de vocês para trabalhar como escravos e colocaremos uma tropa armada para dirigir a produção e para caçar e matar aqueles de vocês que a radiação já não tenha matado.


Lon Der-Sur empalideceu e suas pupilas contraíram-se ao tempo que seu nariz dilatava-se. Procurou os olhos de Lon Vurián com a vista. Este disse, muito sério:


–Ele pode fazer isso.


–Posso mesmo – disse Aldo – mas depois seria constrangedor para minhas relações com os bons amigos que fiz aqui, como os nobres angopakis. Não poderia olhar para eles como amigos e eles teriam um justificado medo de mim. Isso é a última coisa que eu quero; perderia a confiança que tenho neles. Mais cedo ou mais tarde seria obrigado a acabar com toda vida inteligente neste mundo para não me incomodar no futuro, como era meu plano original. Meus deuses não iam gostar disso.


–Mas ameaçando, você está sendo contraditório.


–Talvez, mas não tenho tempo a perder. Minha política é não ocasionar mal aos gopakis e nenhum mal foi causado desde que estou aqui. Nem sequer me vinguei do hariezano safado que destruiu minha fábrica. Prefiro pedir educadamente antes de usar a força. Minha amizade e confiança podem ser compensadoras para vocês, como foram para Lon Vurián. Vocês nada têm a perder e muito a ganhar comigo. Lon sugeriu que eu ensine vocês a navegar no espaço; ele quer criar uma escola espacial aqui. Seria uma pena sermos inimigos quando temos tanto para fazer e todo um universo lá fora para conquistar juntos. Além disso, Lon gosta dos darnianos. Se não gostasse, vocês todos agora estariam mortos, em lugar da perspectiva de trabalho que ofereço. Lon disse que posso confiar em vocês. Espero não estar enganado.


–Quantas armas querem por esse carregamento?


–Mil fuzis com cem mil recargas, duas mil pistolas com duzentas mil recargas, cem canhões com cem mil recargas, conversores para recarregar todas essas armas e peças de reposição. Penso que não é demais para vocês, mas é suficiente para nossas necessidades imediatas – disse Aldo, satisfeito pelo seu aparente êxito.


–É muito...!– Lon Vurián parecia que ia desmaiar, procurando ar.


–Sim – cortou Lon Der-Sur – terá as armas. Vou falar com os Executores.


Aldo e Mara olharam-se. Aldo desligou o microfone e fez Mara imitá-lo.


–Agora não podem ouvir-nos.


–Diga.


–Viu como três mil toneladas de ferro valem?


–As armas também devem valer, mas penso na ameaça que você fez.


–Estou aprendendo a lidar com eles, Mara. Respeitam a força e nós devemos mostrar que somos fortes.


Passaram alguns minutos antes que um grupo de nativos bem vestidos; com certeza Notáveis, se aproximassem, precedidos por Lon Der-Sur.


–E então? – perguntou Aldo.


–Já foi dada a ordem e os veículos de transporte estão sendo carregados no depósito da fábrica do Magta Ers.


–Ótimo.


–E outros estão a caminho para pegar o metal.

*******.


A Nave foi descarregada e volta a carregar. A última caixa de fuzis, fiscalizada por Lon Vurián, entrou na Hércules, já com luz artificial gerada pela nave, que feria os olhos dos marcianos costumados às tristes lâmpadas que imitavam o distante Sol.


Os terrestres contemplavam os trabalhadores estivando a carga nos porões da nave, num espetáculo insólito, inesquecível. Não sabiam que era um momento histórico, a criação de uma profissão: os Estivadores de Marte.

O astroporto de Darnián seria conhecido no futuro como o primeiro astroporto marciano da Era Moderna e o mais importante do Sistema Solar.

Tarde da noite a Hércules lançou-se ao céu com seu carregamento de armas. Chegaram no Ponto de Apoio após a meia-noite. Aldo fez levantar da cama o pessoal de solo para descarregar e acomodar a carga nos depósitos subterrâneos. Ao sair o sol, a nave estava descarregada.
Só então, Aldo foi dormir.

*******.

Mundos Paralelos ® – Textos: Gabriel Solis - Arte: André Lima.

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