Mundos Paralelos - Capítulo 7-7.5

7-7.5
Sábado, 29 de junho.


O Sol banha a estrutura da Ikeya-Maru e penetra pela janela através do filtro.


A cabeça de Aldo está a centímetros do alumínio transparente. Sem que ele veja, o gelo derrete e evaporar-se.

A janela fica limpa antes dos campos.

A luz devolve-lhe a consciência. Sentiu-se caindo no vácuo e espatifando-se no beliche. Abriu os olhos e olhou para fora. A geada levantava-se em vapores que se dissolviam como se nunca tivessem existido, ao tempo em que a vegetação recuperava sua cor verde e o chão sua cor ferrugem.

Longo tempo ficou observando e depois se virou feliz pelo belo despertar. Valia a pena viajar cem milhões de kms para ver o espetáculo. Inge ainda dormia ao seu lado com a cabeça encostada nos pés de Regina, também dormida. No beliche de cima, ouviu uma voz suave:


–Não acorde a Eva, Lúcio-San. Eu prepararei o desjejum para todos.


A japonesinha pulou ao chão descalça e dirigiu-se à cozinha.


–Aldo! Quê hora é? – perguntou Regina em voz baixa e sonolenta.


–Seis e meia, hora de Ares Vallis. Mas hoje é sábado, relaxa.


–Inge dorme. A despertamos? – Perguntou, agora mais lúcida.


–Não. Nossa reverenda dorme como uma criança.


–Deixa-me mudar para teu lado, quero ver para fora.



Regina virou-se e ficou entre Aldo e a parede, para ver pela janela.


–Quê lindo!


Às sete horas o desjejum foi servido. Chiyoko preparou chá e café; sabendo que os antárticos são grandes consumidores de café. Aldo subiu à ponte com a idéia de preparar tudo para tirar a nave desse local solitário e fazê-la descer no acampamento.


O sensor que permaneceu ligado a noite toda; mostrou algo grande aproximando-se do oriente. As câmeras exteriores mostraram uma nuvem de pó. Ligou o comunicador:


–Lúcio! Aproxima-se um exército pelo leste. Maior que o do velho Vurián.


–Devem ser os devotos do seu querido amigo Zayo Bertián. Querem sua cabeça, Aldo, provavelmente numa bandeja de prata marciana antiga, trabalhada.


–Não mereço menos, mas penso que querem muitas cabeças para oferendar aos seus deuses, se é que eles os têm.


–Com certeza. E agora, Aldo?


–Devemos partir.


–Sábia decisão. Vou ligar os sistemas.


–Vá à engenharia e ative o reator. Colocarei a nave em alerta de decolagem. E depois você e Eva devem partir no Auto-N, sem olhar para trás. Não queremos que seja destruído pelo fogo dos motores. Vamos nos mexer.


*******.

Lúcio e Eva embarcaram no Auto-N para salvá-lo da destruição ao decolar a nave e foram para o Ponto de Apoio. Aldo e Chiyoko decolaram a nave vazia, que fez um arco, descendo na base. Aldo foi colocado ao tanto das notícias.

–É isso mesmo, Aldo – disse Marcos – Hariez resolveu agir, vão nos atacar logo e também ao Líder Vurián, culpado de tudo.


–Vurián culpado?


–Seus comandados seqüestraram e entregaram o sabotador Zayo Bertián!


–Ao meu pedido.


–Isso foi um erro, Aldo.


–Foi um erro deixá-lo entrar e explodir nossa fábrica, Marcos.


–Erro foi soltá-lo – interveio Lúcio – devia tê-lo atirado sem pára-quedas sobre sua cidade, como exemplo. Como disse minha irmã; os vilões somos nós. Deveríamos comportar-nos como tais. Prepararei a defesa e reforçarei o escudo.


–Faça isso, Lúcio. Passarão por Vurián antes. Ele foi avisado?



–Sim. Estão vindo a quarenta kph, na melhor das hipóteses. Gostaria de saber como fizeram para atravessar o canal.


–Montaram uma ponte flutuante ao sul – disse Marcos – e uma estrada que corta o deserto e a floresta e nosso lado do deserto 50 kms ao sul da Havern Umbr com uma estrada que ainda estão alisando. Em dois dias estarão aqui.


–Somos importantes, mesmo! – disse Aldo, irritado – Viveram na pachorra, se coçando, se é que se coçam; durante milhares de anos sem precisar nenhuma maldita estrada e nenhuma maldita ponte no maldito canal!


Essa noite, os marcianos de Hariez atacaram o acampamento de Vurián, considerado um traidor pelos governamentais, que perderam o fator surpresa, já que estavam sendo esperados; e se retiraram com numerosas baixas.


–Na próxima nos exterminam – radiou Lon em espanhol para os terrestres.


–Levantem a base, ataquem de surpresa e venham – disse Aldo.


*******.

(Próximo post de Mundos Paralelos em 13/01/2012)

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