Mundos Paralelos - Capítulo 7-7.4

7-7.4
26 de junho. De manhã.


O Auto-N deslocava-se em direção à Havern Umbr, levantando uma nuvem de poeira ferruginosa que ficava longo tempo no ar.

Os jovens antárticos admiravam mais uma vez a paisagem à qual estavam habituados. Sentiam a sensação que sentem as pessoas quando percebem que mudaram de país. Uma euforia agradável.

Após minutos de alucinante vôo a um metro e meio do chão, entraram na depressão, seguindo a trilha dos veículos com rodas. Diminuíram a marcha para não esbarrar em grandes arbustos, e logo chegaram à Ikeya-Maru, uma imponente torre de 80 metros que se destacava sobre a vegetação.
Chiyoko desligou o escudo com o controle do seu cinturão e o Auto-N deteve-se na área carbonizada de vinte metros de raio em torno à nave. Após pegarem alguns objetos, desceram e fecharam o Auto-N.

Com Chiyoko na frente, subiram um a um pela escada e entraram na eclusa, fechando a porta e acionando as válvulas. Quando acendeu a luz verde, levantaram as viseiras dos capacetes. A japonesa abriu a porta interior e entraram no elevador que os levou à parte habitável da nave.

–Este é o vestiário – disse Chiyoko – podemos tirar o equipamento.

Penduraram capacetes, mochilas, luvas, botas e trajes em cabides, ficando em roupa padrão branca; camiseta de algodão, calção e medias soquetes. Entraram no quarto de armas e mochilas, passaram por outra porta junto ao outro elevador que comunicava com a sala de máquinas e o depósito de alimentos e subiram por uma escada ao nível superior, chegando à moradia.

–Eis nosso lar – disse a jovem japonesa.

–Adorei a decoração – disse Regina – parece uma casa japonesa.

–O nível superior é a ponte. Acima, está o módulo Kamikaze.

–Vento Divino – traduziu Regina.

–Meu irmão Maya é o piloto

–Aldo! Há uma banheira enorme! – gritou Lúcio do banheiro.

–Faz tempo que não tomo banho de banheira – responde Aldo.

–Usem o ofurô quando queiram – disse Chiyoko – São meus convidados.

–Antes de qualquer coisa devemos subir à ponte para ligar o escudo.

Aldo e Chiyoko subiram ao nível superior; seguidos pelos demais. A ponte de comando era ampla e agradável, com poltronas para decolagem vertical. Aldo e Lúcio dedicaram-se a aprender o funcionamento dos novos comandos inventados pelo Dr. Valerión e também os do avião Kamikaze, um protótipo parecido ao avião da classe Martelo, usado em Antártica.

–Ele voa pelo espaço e está armado.

–Já foi testado?

–Sim, e também serviu de base para os dois aviões que serão fabricados aqui: o CH-I e o AR-I. Meu avô antes de viajar passou as especificações ao sistema de vocês, mas, de todas formas isso será desenvolvido ao seu retorno.

*******.

O resto do dia; Aldo e Lúcio ligaram o sistema e fizeram a inspeção de rotina; vendo que era uma nave forte e resistente. O sol beijava o horizonte, e a nave já tinha sido revistada até seu último rebite. Estavam com fome, pois esqueceram de almoçar.

–Estamos cansados, Chiyoko, queremos tomar esse banho, esse ofurô, naquela banheira enorme – disse Lúcio.

–Meus senhores, dirijam-se á ducha, para tirar a sujeira – disse Chiyoko com sua típica sinceridade oriental – enquanto regulo o ofurô à temperatura correta.

–De acordo – disse Aldo – tomaremos banho para limpar a sujeira antes de tomar banho. Não é uma redundância?

–Acho um costume japonês muito higiênico – disse Lúcio.

Após a ducha foram até a banheira fumegante. Lúcio foi o primeiro a entrar,
Aldo meteu o pé na água e o retirou imediatamente.

–Mudei de idéia.

–Bobagem! – disse Lúcio – Entra na água!

Aldo entrou na água escaldante bem devagar.

–Agora sei como se sente um frango fervido.

–Á vontade senhores? – perguntou Chiyoko recolhendo as roupas dos homens.

–Sim; pequena – respondeu Lúcio – em 15 minutos seus senhores estarão no ponto para serem servidos com arroz.

–Prepararei o arroz, então – disse a anfitriã com uma reverencia, mas sem ironia, dando uma lição de humor oriental.

Inge assomou na porta, seguida das outras garotas.


–Também quero! – disse Regina com olhar de criança desamparada.

–Terão que se banhar primeiro – disse seu irmão.

–Ao chuveiro! – ordenou Inge despindo-se alegremente – Quem entrar por último lava os pratos!


–É evidente que serei eu – disse Chiyoko, despindo-se e introduzindo as roupas de todos no lavador automático.

Após a ducha, as garotas entraram na banheira redonda de vitroplast imitação madeira, cujos vapores eram prontamente absorvidos pelo sistema de ventilação para serem aproveitados. Entre risadas e piadas, as garotas ajeitaram-se na banheira com espaço para oito pessoas.

–Maravilha – disse Inge – isto é sublime.

–Não tínhamos isto em Antártica – replicou Regina – só uma sauna.

–Pois precisava ter – disse Inge – depois do trabalho, com todo aquele gelo...

–Os japoneses têm um caráter mais calmo do que o nosso – interrompeu Eva, encostando-se à direita de Lúcio – eles têm isto, ao final do trabalho.


–Praticamos o banho escaldante desde tempos imemoriais – disse Chiyoko, à esquerda de Inge – Toda casa japonesa tem seu ofurô.

–Masoquismo – observou Regina entre Aldo e Lúcio, com água até o pescoço.

–O corpo fica limpo e os poros se abrem – disse Chiyoko sem importar-se com a brincadeira da psicóloga.

–É verdade – disse Eva, que parecia estar no céu – Assim os antigos evitavam as doenças de pele, sarna e outras.

–Isso mesmo – disse Chiyoko.

–Quê horror! – exclama Regina de repente, surpreendendo a todos.

–O que houve contigo? – perguntou seu irmão.

–O que te aconteceu? Ou vai te acontecer, no caso? – perguntou Eva alarmada.

–O que me acontece agora! – disse Regina – Algo terrível...!

–Mas o que? – disseram as mulheres a coro, diante da surpresa dos homens.

Regina fez uma expressão de infinita tristeza:

–Estou completamente nua, maravilhosamente nua, sublimemente nua numa banheira no meio de dois homens; aliás, diga-se de passagem, dois belos exemplares de homens, completamente, maravilhosamente, sublimemente nus, totalmente nus...!

Após o choque inicial, Inge perguntou timidamente:

–Por quê achas isso um horror?

Regina fez uma expressão de desencanto e respondeu rapidamente:

–Um deles é meu irmão e o outro é meu chefe...! Pode?

*******.

Enquanto riam e conversavam, a lavadora de roupas girava alegremente. Em determinado momento a máquina começou a cuspir roupas secas que caíram dentro de uma cesta imitação vime, surgida da parede em frente.

–É uma máquina simpática – comentou Regina.

Após uma hora, saíram da água; renovados. Chiyoko entregou-lhes toalhas e kimonos coloridos e floreados.

–Espero que fiquem bem em vocês. Agora que estamos limpos, descansados e relaxados vou preparar o jantar – disse Chiyoko indo para a cozinha; compartimento minúsculo onde eram processados os alimentos.

–São bonitos – disse Regina vestindo seu kimono.

–Não uso nada parecido com um vestido desde que era menina na Noruega. De adulta só vesti macacões, uniformes e trajes espaciais – disse Inge.

Aldo e Lúcio vestiram kimonos sóbrios, azul e cinza, Aldo escolheu o cinza.

–Fica melhor em mim – disse.

–Como sabe? – perguntou Lúcio – Acho que é a primeira vez que você chega perto de uma vestimenta como essa!

Entraram descalços na sala de estar belamente acarpetada e sentaram nas almofadas espalhadas junto às paredes recobertas de vitroplast à imitação de papel.

–Banheiro, sala de estar, cozinha, dormitório... Souberam administrar bem este andar – disse Aldo – são apenas dez metros de diâmetro.

–Foi projetado pelo meu avô – disse Chiyoko desde a cozinha.




A anfitriã serviu o jantar numa mesa baixa que surgiu do chão. Todos vestindo seus lindos kimonos sentaram ao redor da mesma, enquanto a japonesa servia com o maior capricho os pratos e tigelas.

–Espero que gostem. É o melhor que podemos fazer com o que temos a bordo.

–Parece apetitoso – disse Lúcio – É arroz de verdade?

–Claro, mas a carne é sintética e o peixe também.

–Parece peixe de verdade – disse Aldo, servindo-se com os palitinhos.

–Maneja o hashi muito bem, meu senhor.

–O que é isso? – perguntou Eva.

–São os palitinhos – respondeu Lúcio.

–Aprendi com meus pais, quando viajávamos pelo mundo – disse Aldo.

–Esteve no Japão?

–Sim, quando criança.

–Quer falar de seus pais e contar suas experiências?

–Não, hoje não.

–Mas... Sim, claro... Como queira – disse a jovem japonesa, após um discreto sinal de olhos de Regina para não insistir no assunto.

–Prefiro que contes como foi o interrogatório de Zayo Bertián, querido. Só vim saber disso ontem – disse a psicóloga, mudando rapidamente de tema.

–Ah! Sim – disse Aldo, colocando sushi no seu prato – Vurón Garlak retornou a Hariez com um grupo de comandos bem treinados e seqüestrou o maldito sabotador na sua própria moradia.

–Um trabalho digno do Esquadrão Shock – disse Lúcio.

–E o quê aconteceu? – insistiu Regina.

–Entregaram-no a mim e mandei colocar o infeliz na máquina hipnopêdica, que ligamos ao máximo a noite toda. Seu cérebro deve ter ficado como um esfregão, ele é um velho. Ao dia seguinte o interroguei e, entre outras coisas, descobri que os darnianos pegaram uma sonda Viking do século passado.

–Qual delas? – perguntou Regina.


–A Viking I, que desceu há 37 anos ao oeste daqui. Fizeram engenharia reversa e captaram transmissões da Terra. Boris está indo para o local, neste momento.

A revelação foi recebida com espanto. Chiyoko serviu o saké.

–Quer dizer que todo este tempo eles estiveram nos monitorando?

–Sim, Eva. Por isso eles têm prevenção contra nós. Temem uma invasão.

–O que não está completamente errado – disse Inge.

–Já os invadimos – observou Lúcio, bebendo um gole de saké – primeiro foram sondas e veículos com rodas tele-dirigidos. Depois a invasão de fato: nós.

–Como na Terra com os alfas – disse Aldo servindo-se – primeiro enviaram pequenas naves a conferir o terreno e depois os surpreendemos na Lua e os colocamos para correr. E nossa Selene I não era tão ameaçadora assim.

–O que não quer dizer que eles não estejam por aí escondidos, esperando a oportunidade – replicou Lúcio – Sabemos que fizeram contato com o inimigo.

–Poderíamos ter dado conta deles há muito tempo – disse Inge com amargura na voz – se os malditos lacaios do governo mundial não tivessem ocultado do mundo a existência desses imundos monstros sugadores de sangue.

–Quando os OVNIS apareceram ainda não havia governo mundial – observou Chiyoko – Pelo menos de cara descoberta.

–Tem razão querida, mas existia o mundialismo, essa doutrina perversa e nefasta que o fez realidade – disse Inge.

–Em certo modo – disse Aldo – os mundialistas aproveitaram a tecnologia dos alfas em seu proveito. Estados Unidos, Rússia e talvez algum outro país da Europa...

–Alemanha, na guerra, tinha discos voadores... – disse Lúcio – é provável que essa técnica tenha sido roubada pelos vencedores...

–Como roubaram tantas outras... – disse Inge – foguetes, petroquímica...

–Não acho que os vencedores conseguissem – replicou Aldo, interrompendo à jovem norueguesa – penso que os alemães esconderam bem seus secretos.

–Se é que alguma vez tiveram esse secreto – disse Chiyoko.

–Tiveram, sim. Talvez não dos alfas, mas eles tinham discos voadores.

–Como sabe? – perguntou Eva incrédula.

–Isso requer uma explicação detalhada.

–Estou ouvindo.

–Valerión disse que os alienígenas que têm visitado a Terra nos últimos 12.000 anos são de espécies diferentes. Nos anos posteriores à guerra mundial, os norteamericanos negavam veementemente a existência de seres extraterrestres, mas os escondiam dos seus inimigos das outras espécies nas suas bases subterrâneas, como o Esquadrão Shock descobriu.

–Como naquele filme clássico em que os aliens exterminavam a maior parte da população – disse Lúcio – filme hoje proibido pela Nova Ordem Mundial.

–O que me escapa é o por quê dos discos dos alemães não serem encontrados pelos vencedores – disse Chiyoko voltando ao assunto.

–Acharam desenhos e fotos – disse Lúcio – e vazaram para o grande público.

–Mas e os discos em si? – insistiu Chiyoko.

–Discos voam – respondeu Lúcio – Viram que a guerra estava perdida e...

–...Foram embora – completou Inge – eles não iam ficar por aí, vendo sua pátria ser invadida, conspurcada e destruída pelos vencedores.

–Mas para onde foram, Inge? – perguntou a jovem japonesa.

–Há duas versões: uma é que foram para a Antártica. E foram mesmo, porque nossa cidade está edificada sobre e dentro das cavernas que eles deixaram. Havia bandeiras e objetos deles por lá quando chegaram os primeiros antárticos.

–Talvez com os cem enormes submarinos de carga que desapareceram após a guerra e que ninguém sabe onde foram parar – disse Eva.

–E a outra versão? – perguntou Chiyoko.

–Que vieram para Marte.

–Não pode estar falando sério, Inge.

Os olhos azuis de Inge estavam frios como aço. A expressão de Chiyoko era de incredulidade. Era muita informação em muito pouco tempo para seu cérebro técnico.

Mas a expressão dos seus convidados Aldo e Lúcio; astronautas antárticos de primeira linha; Inge, norueguesa, Eva, alemã; Regina, italiana; todos eles filhos de mártires da Causa; dizia que falavam sério. A voz dela saiu tímida e apagada:

–Tudo bem. Expliquem-me, por favor, sou muito ignorante nesses assuntos.

–Os mais velhos dizem que é isso é provável – disse Lúcio.

–Ao chegar aqui – disse Aldo – encontramos em órbita um tanque de aço de boa qualidade, muito velho, com a inscrição Wasser; água, em alemão.

–E o que fizeram com ele?

–Ainda está lá – disse Aldo, com um gesto de olhos para cima – na descida estávamos muito atarefados para ocupar-nos dele.

–Só podemos imaginar como veio a parar aí – disse Inge – sem dúvida é um resto da expedição deles, o que indica que esta realmente aconteceu.

–Talvez chegaram em 1946 – disse Aldo – se consideramos a mensagem que recebi de Valerión recentemente.

–Quê mensagem? – perguntou Chiyoko.

–Uma que só Lúcio e Boris leram além de mim.

–E o quê disse? – perguntou Regina, já mais interessada.

–Mais ou menos por cima, amigos; Valerión disse que em 19 de abril de 1945, o III Reich, estava em situação desesperada e alguma coisa deveria ser tentada. Depois de transcrever um discurso do Ministro da Propaganda, que foi o último, disse que os cientistas alemães em previsão do fim e suas conseqüências; desenvolveram uma nave disco, baseados nos antigos escritos tibetanos deixados pelos deuses: a Haunebu-3.

–O quê quer dizer Haunebu? –perguntou Regina.

–Não sei. Valerión disse que a palavra Haunebu é misteriosa, seu verdadeiro significado, o verdadeiro motivo para denominar assim os projetos e realizações de estas séries está ainda para ser decifrada. O nome é tão misterioso como o aparelho.

–Há fotos?

–Sim, Inge. Valerión mandou algumas fotos e desenhos que demonstram que isto não é uma simples fantasia de historiadores loucos.


–Era melhor do que as nossas naves? – perguntou Chiyoko.

–Acho que não. Tinha 71 metros de diâmetro. Sua capacidade e autonomia foram calculadas matematicamente com propulsão eletro-gravitacional em 75.274.000 kms; cobria a distância Terra-Marte. Porém depois, segundo Valerión; e se o conheço bem ele pesquisou bastante; o impulsor eletro-gravitacional ficava inoperante porque lentamente fundia-se aos metais, que na época, foi possível conseguir para utilizar na construção por serem os únicos disponíveis na Alemanha sitiada y bombardeada.

–O quê eles esperavam? – perguntou Inge – Ao chegar ficaram sem meios de voltar... Ou o retorno não seria importante no caso...?

–Pois é – disse Aldo, com os olhos em outra época – essa jornada espacial era arriscada e não oferecia, possibilidade alguma de retorno.

–Eram mais corajosos do que nós – observou Regina – Nós tínhamos a certeza do retorno, quando o desejássemos...

–Mas, mesmo assim, ainda sabendo que seria um ato de sacrifício, foi decidido levá-lo a cabo na primavera de 1945, após o Ministro de Propaganda ter pronunciado seu último discurso, que Valerión enviou na íntegra.

–Foi a maior aventura do homem – interveio Lúcio – maior inclusive que a descida na Lua pelos astronautas norte-americanos em 20 de julho de 1969.

–E maior do que a nossa aventura; guardadas as devidas proporções.

–Claro Regina. A Haunebu-3 era uma nave-arca. Sua seleta tripulação era de astronautas de ambos os sexos. Estes heróis e seus mentores tinham a esperança, embora eu não saiba baseada em quê, de encontrar ajuda extraterrestre para terem a possibilidade de sobreviver fora da Terra e poderem retornar posteriormente.

–Seria que eles conheciam a existência dos marcianos?

–Não faço idéia, Eva.

–E o Dr. Valerión? Ele tinha alguma teoria ao respeito?

–Valerión sempre foi um homem cheio de teorias; querida. O resto do fax era de suposições sobre o destino final dos heróis. Ele se perguntava se seria possível que sobrevivessem e tivessem descendência. Assim o Terceiro Reich teria conquistado a imensidão espacial a despeito dos vencedores da guerra, ainda presos ao solo.

–Poderíamos encontrá-los – disse Lúcio – talvez seja isso o que tanto preocupa à ditadura quanto à nossa chegada a este lugar.

–Não sei. Segundo Valerión; devemos evitar especulações, porém existe algo que foge ao controle da ditadura terrestre: os OVNIS.

–O quê tem a ver os Alfas com tudo isto?

–Muito, Regina. É uma situação ridícula para o Governo Mundial. Tudo o que os OVNIS desejam ver, observar, conhecer, visitar à vontade, está ao seu alcance. Nem armas, dinheiro, conspirações das seitas sicárias do Governo podem impedi-los; assim como nós, que temos muito poder e fazemos o que queremos.

–Isso é verdade – disse Chiyoko.



–Eles acham que os OVNIS – prosseguiu Aldo – quando decidirem lutar e vencer; ninguém poderá detê-los. Sabemos que não só existem os alfa cinzentos; que ajudam secretamente o governo mundial; senão também os beta cinzentos e mais
outros dois tipos; os betas grandes, parecidos com os alfas, porém de tamanho igual ao nosso; e os Adamskys, que segundo seu descobridor Adamsky, são loiros de olhos azuis, como os tripulantes da Haunebu-3.

–Os Adamskys... – Pensou em alta voz Lúcio

–Os mesmos – disse Aldo – há fotos que Adamsky bateu de OVNIS no século XX, que conferem com os projetos conhecidos dos discos voadores dos alemães...

–Fascinante! – Exclamou Eva.

–Fotos da década de 90 mostram uma nave do tipo Haunebu-3 vindo da lua em direção à Terra. A gente comum ao final do século era incrédula. Hoje sabemos, mas na época, apenas o governo invisível o sabia. Em 1995, antes do golpe; documentos e informes formavam uma extensa lista. Apareciam nas fotos naves do tipo Haunebu, Vril e Andrômeda, iguais aos tipos de naves alemãs.

–Eles tinham muito medo dos OVNIS, meninas – disse Lúcio – Eles pensavam que poderia estar sendo preparada uma invasão à Terra desde o espaço exterior.

–Por parte dos alemães?

–Sim, querida. Parecia a eles que o Terceiro Reich voltaria para vingar-se das atrocidades que cometeram com o povo alemão após a guerra.

–Isso é fantástico demais, Aldo – disse Eva, ainda incrédula.

–Concordo, querida. É difícil de acreditar. Porém na época eles tinham medo.

–Mas na Lua vimos os Alfas Cinzentos e pegamos seus arquivos. Deve haver algo de verdade atrás de tudo isso – disse Lúcio.

–E também achamos o tanque de água; um objeto que não deveria estar aqui, segundo a lógica mais pura.

–Claro Eva. Um pedaço da nave. Sem dúvida deve de ser algo que precisaram descartar da Haunebu-3. Quem sabe dos problemas que tiveram?

–Não há dúvida quanto a isso, Aldo – disse Lúcio.

–Sim. Valerión disse que o que mais o tem intrigado todo este tempo, é que se os alemães realmente saíram para o espaço e se deram bem por lá... Por quê motivo não retornaram e acabaram com russos e americanos? Teria sido fácil.

–E onde eles estão?

–Não me pergunte, Chiyoko. Aqui não estão. Teriam vindo ao nosso encontro para enfrentar-nos ou pelo menos conversar. Os marcianos saberiam – disse Aldo.

–Talvez sabem e ocultam.

–Boa observação, Regina.

–Claro Aldo. E esse tal de Zayo Bertián...

–Zayo Bertián foi o pivô da nossa conversa toda, Regina querida – disse Aldo.

–O que fizeste com ele, o mataste?

–Não posso fazer isso, Regina. Apesar do dano que nos ocasionou, ele não matou ninguém. Eu tinha que ir às Luas ao dia seguinte e o coloquei na prisão a noite toda, após conversar com ele.

–E de quê conversaram?

–Fui direto, querida. Ameacei exterminar-lhe a espécie, deixando-o para o final se continuasse interferindo em nosso caminho.

–Sutil, não?

–Sim. Ao partir para as luas mandei soltá-lo. Tinha mais do que me preocupar.

–Não achei prudente. Vão se vingar. Farão o impossível para expulsar-nos.

–Deveria tê-lo matado, na tua opinião?

–Não. Seria pior. Talvez um grande susto...

–Acho que levou mesmo um grande susto, Regina.

–Eles são um povo inteligente e livre. Nós somos o inimigo, os invasores, apesar de ter o Líder Vurián de nosso lado. Se a situação fosse inversa... Como achas que seria considerada a conduta do Líder Vurián?

–Como a de um traidor, Regina – interveio seu irmão.

–Ele é o nosso traidor e devemos aproveitá-lo ao máximo – disse Aldo.

–Concordo, queridos – disse ela – os vilões somos nós e os mocinhos são eles.

–É isso. Não podemos amolecer – disse Aldo – a Causa em primeiro lugar.

–E se os tripulantes da Haunebu-3 ainda estivessem em Marte? – perguntou Regina, que não podia parar de pensar no assunto.

–Isso aconteceu há 67 anos – disse Aldo – A média de idade deles deve de ser de mais de 90 anos atualmente.

–Mas se eram de ambos sexos, talvez tenham descendentes que já estejam estabelecidos firmemente – replica Inge.

–E como sobreviveriam?

–Poderiam sobreviver num local subterrâneo, Regina, talvez até desenvolveram alimentos a partir de vegetais locais, coisa que nós ainda não tentamos, talvez por falta de audácia... – observou Aldo.

–A nave deles era grande, poderíamos vê-la do espaço – disse Inge.

–Se não estivesse enterrada na areia – responde Aldo – pensa em todas as tormentas de vento que houve aqui nos últimos sessenta e sete anos...

–Opino que deveríamos tentar achá-los – disse Inge.

–Talvez só encontraremos seus ossos – disse Aldo.

–Seria como achar uma agulha num palheiro – disse Regina.

–Mas e seus descendentes? – pergunta Inge.

–Sim, mas se existissem, os marcianos saberiam...

–Aldo; só conhecemos uma pequena parte do planeta. Há cinco urbes além das comunidades pequenas e isoladas. Eles podem estar numa dessas...

–Lúcio, não entra nessa...!

–Deixa sonhar, Aldo. Pode ser que Boris os encontre na sua jornada.

–Se ele achar vestígios deles, será muita, mas muita sorte mesmo – disse Aldo dando o assunto por encerrado.

Após o polêmico e interessante jantar, sentaram-se perto das janelas para observar a noite. Chiyoko colocou música suave.

–Gostariam de ficar esta noite aqui? – perguntou a anfitriã.

Todos concordaram.

–Alegra-me que sejam meus convidados.

*******.

Afora, um habitante da Havern Umbr, deslizou para fora da toca, espichou suas seis patas, açoitou as areias com a sua longa cauda escamosa, abriu a boca, encheu seus grandes pulmões com o tênue ar e emitiu um grito eletrizante.

Dentro, os terrestres ouviam música suave e olhavam pela janela para a negra escuridão da noite estrelada.

Do lado de fora, o Habitante da Havern Umbr virou a cabeça e viu Phobos aparecendo, sem suspeitar que alienígenas estavam trabalhando nele. Seus três olhos piscaram, ainda estava sonolento. A luz de Phobos cheia; projetava a sombra do Ikeya-Maru sobre os arbustos e ele rapidamente dirigiu-se à mesma, ficando na escuridão. Havia uma parede invisível que não lhe deixava aproximar-se. Não podia saber que se tratava do escudo. Mas não se importou, fez um rodeio e voltou a observar a lua que parecia estar ao alcance das suas garras.

A luz desta, refletia-se na sua pele escamosa, produzindo inusitados reflexos verde-azulados. Então girou a cabeça à grande torre metálica que tinha um círculo iluminado na cima, como uma pequena lua amarela. Isto chamou sua atenção e o manifestou enchendo de ar os pulmões e soltando um grito daqueles que gelam o sangue nas veias.

*******.

–É bonita a visão daqui de cima, Inge – disse Aldo, trocando o kimono por sua roupa de algodão, já seca.

–Parece terrível, com Phobos dando esses tons sinistros.

–Há janelas em cada beliche – disse Chiyoko, recolhendo os kimonos.

–Excelente! Como estão ao leste, o sol nos acordará – disse Aldo.

Cada um buscou seu espaço no beliche padrão duplo. Aldo e Inge deitaram-se juntos. Deitados podiam ver o exterior. Regina aproximou-se deles.

–Lúcio e Eva fecharam a cortina e Chiyoko está no banheiro – disse a psicóloga – me deixam deitar aí com vocês?

–Vem – disse Inge.

Regina subiu no amplo beliche e olhou pela janela.

–O quê há de interessante para ver?

–É assustadora Havern Umbr à noite – disse Inge.

–Preste atenção e verá o Exápodus Noctussaurus Martianus, Inge, como Boris o batizou quando o achamos. Aquele ali entre os arbustos; que parece um camaleão de seis patas; noturno como a maioria dos bichos daqui. Por quê será?

–Os raios ultravioletas. Ainda estou chocada com a vida fora da Terra, Regina.

O Habitante da Havern Umbr não sabia que aquela luz no alto da torre era uma janela da qual três seres observavam-no curiosos. Seu pequeno cérebro ordenou ao seu corpo procurar alimento. Em seguida seus três olhos descobriram o arbusto sob o qual habitam os vermes suculentos que são seu principal alimento. Começou a cavar.

*******.

Impera a quietude. A astronave está com as luzes apagadas. Suas janelas estão cobertas de gelo, assim como o chão e a vegetação. O Habitante caminha sacudindo a cauda e olhando tudo ao redor. Acaba de banquetear-se com vermes e folhas macias.

Também experimentou as raízes do espinheiro e os deliciosos frutos amarelos da hidra rasteira. Subitamente, um brilho suave clareia o horizonte; o belo espetáculo que contempla todos os dias. Aos poucos a luz aumenta, como brotando do próprio chão.

Primeiro um raio, logo outro e por fim... O Sol. O Habitante da Havern Umbr enche os pulmões que parecem a ponto de explodir e em segundos seu apavorante grito fantasmal destroça o sacrossanto silêncio da região, como se fosse uma taça de cristal.

Em seguida, o Habitante corre velozmente sobre suas seis patas rumo à sua toca.


*******.
(Continua em 06/01/2012)

Comentários

  1. Gostei muito do que li aqui. Já sou assíduo!

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  2. Obrigado por seu comentário. A saga continua e vem mais surpresas por aí.

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  3. Sei algo que pode ajudar as tuas criações. O blog linguagem "assembly" do universo vê as dimensões extra de várias maneiras. Uma das maneira é uma arquitectura diferente da super máquina para compilar bits de Wheeler, devido a uma maior liberdade de movimentos e a uma inspiração neste físico (os bits). A outra é as dimensões extra permitirem "teleporte" por causa das dimensões extra não fazerem parte do espaço onde o inimigo anda e conseguir-se chegar lá mais depressa do que a luz. O teleporte é poderosíssimo porque pode-se teleportar bombas para o interior das naves inimigas.
    Estas e muitas outras podem inspirar o teu blog.
    Obrigado e assinado Osvaldo!

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  4. Muito obrigado por seu comentário, Osvaldo.
    Valeu a sugestão.
    Claro que de acordo com o autor, MP é uma saga familiar que se desenvolve no espaço. Neste Volume (1), eles conquistam Marte e ainda vão formar famílias, das quais filhos vão nascer nos volumes seguintes. No Volume 2, ainda vão para Júpiter, e no 3 estarão em Saturno. Já lí até o capitulo 34 do volume 4 e posso assegurar que há muita aventura e surpresas, com batalhas espaciais e contacto com seres de fora do sistema solar e até da galaxia (lembre o primeiro post). Até aí ainda não inventaram o teleporte, mas estão se preparando para a dobra espacial que os levará às estrelas.
    Saudações.
    Martin

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