Mundos Paralelos - capítulo 4 - 4.9

4-49

23 de maio, ao pôr do sol.

A naves antárticas, Ares I e Ares II; já em órbita, solicitam permissão para aterrissar no Ponto de Apoio. Aldo entra em contato com a Ares I, ilumina-se a tela do terminal e aparece o semblante jovial e sorridente do coronel Daniel Marín, o líder dos pilotos da FAECS. A surpresa e a alegria de Aldo não têm limites ao ver seu ex-colega da Academia Espacial Militar Antártica).


–Daniel...! Não acredito! Não lhe esperava antes de novembro!



–Resolvemos fazer-lhe uma visita antecipada, junto com Alfredo.



–Alfredo Solís está com você?



–Sim, na Ares II. Estamos soltando os containeres.



–Mas... Quê dupla de loucos! Desçam de uma vez!



Vinte minutos depois, as duas naves tomam pista, não sem antes fazerem um
monte de temerárias acrobacias aéreas à baixa altura sobre o acampamento antártico, como se fossem simples caças num circo aéreo, deixando todo mundo no Ponto de Apoio com a adrenalina à flor de pele.

Vinte homens desce
ram das naves e foram recebidos efusivamente no alojamento principal. Daniel e Alfredo portavam duas caixas de cerveja em lata, que com o frio ambiente, ficariam na temperatura adequada uma vez dentro do alojamento.


Enquanto os tripulantes confraternizavam, encontrando velhos camaradas
e amigos, os capitães Elvis, Andrés, Luis, Daniel e Alfredo, se reuniam com Aldo ao redor de uma mesa, na frente da cerveja recém desembarcada.

Depois de um trago, Daniel disse:


–A coisa está esquentando por lá. O poder do Grande Irmão está descomunal,
mas ainda não conseguiu nos dobrar.


–E o povo?



–O povo está comparando, Aldo. Sob o domínio dos Treze malditos, as
cidades fedem de sujeira, de ratos, baratas, mendigos, degenerados e criminosos. Parece que não saiu como Eles queriam.


–Em nosso domínio – disse Alfredo – estamos limpos, alimentados e sadios.


–Também não sei até quando – acrescenta Daniel – Os alimentos começam a faltar em algumas regiões.


–E Antártica?



–Aí é que está o problema, Aldo – disse Daniel – Exportamos alimento para os
países que nos apóiam.


–Mas não podemos ser o celeiro do mundo!


–Claro que não! Os hidropônicos de Neu Schwabenland, no subsolo da Terra
da Rainha Maud, não são suficientes – afirmou Daniel.


–Precisamos abastecer a Lua e a nós mesmos – intervém Alfredo.


–De todas maneiras Argentina Sul, produz o suficiente para manter-se, e Chile
e Uruguai também – disse Daniel.


–No hemisfério norte, e em alguns países da América e África, não se cultiva mais a terra, o povo está indo às cidades para morar em favelas – disse Alfredo.


–Por quê? Pelos impostos? Preço dos insumos? Falências?



–Tudo isso que citou e ainda mais, Aldo – interveio Daniel – Os malditos
tiranos não são de trabalhar a terra senão de explorar os que a trabalham. E a população ignorante não o faz porque quer assemelhar-se aos dominadores, os trouxas querem ostentar a Marca para ter ilusão de estarem integrados, globalizados. Acham o máximo. Mas nós sabemos o que lhes acontecerá depois. Não é Alfredo?


–Servirão de pasto dos tiranos quando precisarem de peças de reposição.



–E como está a Lua? – perguntou Aldo.



–Com Max Guerreiro, a coisa começa a melhorar. Em um ano, a Lua não
precisará importar alimento nem água. Estamos explorando as fontes de gelo lunares da região Sul, e as fontes sublunares do Circus Clavius. Valerión mandou levar todo o
material estocado em Port Armstrong numa caravana de veículos para a nova base perto de Clavius, onde há gelo subterrâneo. Aí foram montadas as fábricas de
vitrotitânio e combustível – disse Daniel.


–Quando partimos; Valerión estava indo para a base da Cara Oculta.



–Sim. Aí fabricará naves e armamento nuclear para Max Guerreiro. Cara
Oculta está fora do alcance de mísseis inimigos.


–Devia imaginá-lo. É a única maneira de Valerión trabalhar produzindo para
nós sem ser molestado.


–Max está colocando gente selecionada de Antártica, Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, dando preferência a casais jovens, de boa saúde geral, com um ou dois filhos.


–Isso é perigoso – disse Aldo – pode dar lugar à infiltração inimiga. Sabes que
eles sempre têm boa saúde e aparência, Daniel.


–Não há problema, Aldo. Depois de pegar os traidores e os infiltrados dentro de Antártica, começamos a admitir pessoas com base no genoma. Não há a mínima possibilidade de entrar alguém cujo DNA não confira com nossa base de dados.


Aldo estava maravilhado.



–Finalmente conseguiram? Mas o inimigo deve tê-lo também...



–Não. – Daniel foi lacônico – Além de roubar o segredo do Projeto Genoma, o
Esquadrão Shock matou todos os cientistas inimigos envolvidos no projeto deles.


–Mataram? – Aldo estava apavorado.



–Não se perdeu muito, acredite – disse Daniel – todos aqueles malditos
cientistas eram da classe dominante; inúteis e perigosos para nós.


–Além do mais – interveio Alfredo – o Esquadrão destruiu os computadores após pegar os dados. Destruiu as redes de base de dados que não pôde roubar com vírus e logo depois soltou na rede o vírus mutante fabricado pelo nosso agente na Islândia; dinamitou e queimou os laboratórios, após matar os cientistas, é claro.


–O Esquadrão extrapolou desta vez – disse Aldo.



–Você não sabe nem a metade do que o Esquadrão já fez, Aldo – disse Daniel
empolgado – Isto tudo, nós devemos ao Esquadrão Shock, direta ou indiretamente.


–Eles sangraram para que Antártica fosse realidade e que ainda estejamos
vivos e livres em Marte, em vez de escravos da ditadura maldita – disse Alfredo.


–Realmente pouco sei deles, Alfredo.


–Geralmente ninguém conta nada dos bastidores aos astronautas, Aldo.



–Mas por quê?



–Acham que somos valiosos demais para ocupar nossas cabecinhas com outra
coisa que não seja nossa missão – interveio Daniel – Mas nós sabemos alguma coisa sempre, por meio dos camaradas da Inteligência.


–A luta do Esquadrão Shock para dar-nos a liberdade e o espaço sideral, algum
dia será contada, pode crer, Aldo – disse Alfredo – Talvez pelo próprio Valerión.


–Valerión foi membro do Esquadrão – acrescentou Daniel – Em 1998 ele
roubou e decifrou o código deles, e aí tudo começou.


Aldo estava empolgado como uma criança com brinquedo novo ao descobrir que seu admirado mentor, Valerión, fora integrante do famoso Esquadrão Shock.


–Ah...! Eu tinha nove anos! Quero saber mais, mas ninguém me conta nada!



–Outro dia, Aldo – disse Alfredo, muito mais interessado no momento e no
lugar que estava vivendo.


–Cretinos! Despertam minha curiosidade e depois jogam baldes de água fria!
Querem me manter numa redoma? – Aldo estava realmente alterado, detestava o fato de que muitas coisas realmente importantes sobre a Causa, eram ocultadas dos astronautas de primeira linha, como ele, que tanto tinha feito. Achava que tinha ganhado o direito de entrar no rol dos iniciados. Por isso acrescentou:


–Tenho direito de saber sobre o passado, acho que ganhei esse direito ao vir
aqui e fazer o que fiz em prol da Causa!


–Não precisa irritar-se, Aldo – disse Daniel – nós apenas sabemos um pouco mais do que você sobre isso. Alfredo só disse o pouco que conseguimos descobrir.


–De terceira e quarta mão, se quer saber – disse o aludido.


–O mais indicado é Valerión – prosseguiu Daniel – Ele sabe tudo, conhece o
Líder, ajudou a fundar o grupo e foi membro dele. Nunca notou uma pequena cicatriz que Valerión tem na têmpora direita?


–Notei.


–Foi numa missão em Buenos Aires em 1998.



–Ele foi ferido e seqüestrado por um bando de mendigos que queriam vendê-lo
para o Banco de Órgãos – interveio Alfredo.


–Não estão brincando comigo?



–Não. Quem o salvou foi um gigante austríaco chamado Alois Stülpnagel,
mais conhecido pelo codinome de “Trovão”.


–Claro que ouvi falar do “Trovão”!



–E o Darlán, a Liza, e o Syd? – perguntou Daniel.




–Claro! – respondeu Aldo – São lendários... Syd o homem das facas, Liza, a
mulher das armas leves, Trovão, o homem das armas pesadas, Darlán, o perito em informática... Sabiam que ele foi aluno de Thorwold Igmar Stefansson, pai da Inge?


–Darlán foi aluno dele? Do homem que criou o IS-TRES, o sistema antártico
de Informática, superior ao MSDOS, ao Windows, ao McIntosh, ao Linux...?


–Foi. Ele foi assassinado pela ditadura por isso, Daniel.


–Você vê Aldo, por isso, foi possível que hoje estivéssemos aqui – completou
Alfredo – Se Valerión tivesse morrido naquela ocasião, adeus Projeto Selene, adeus Projeto Marte. Estaríamos trabalhando para a ditadura ou mortos.


–É mais provável o último – disse Daniel – Depois de escapar dessa, Valerión
bolou o Projeto Atlantis. O seqüestro do ônibus espacial.


–Ah!... Sei. – disse Aldo lembrando do codinome da operação – Se não fosse
por isso, não teríamos construído as naves da classe Selene, nem teríamos ocupado a
Lua bem na cara deles, nem estaríamos agora em Marte.


–Sem esquecer a captura dos submarinos nucleares – disse Daniel.


–Sim, amigos. De uma forma ou de outra, talvez devamos nossas vidas como
elas são atualmente, ao Esquadrão Shock – disse Alfredo.


–Bebamos a isso – disse Daniel – Ao Esquadrão Shock!


–Sim – disse Aldo – vamos beber ao Esquadrão Shock!


*******.

FIM DO CAPÍTULO IV


Mundos Paralelos ® – Textos: Gabriel Solis - Arte: André Lima.

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