Mundos Paralelos - Capítulo 4 - 4.2

4-4.2
O sol se levantava, iluminando aos poucos às diferentes formas vivas do deserto, seres diurnos que retomavam o cotidiano trabalho de procurar alimento para sobreviver, enquanto os seres noturnos recolhiam-se nos seus buracos. O sol fazia
brilhar com inusitadas cores a nuvem de pó deixada atrás pelo veículo vermelho e
cinza que marchava à boa velocidade pela borda do areal. Na cabine dianteira, Lon Vurián dirigia, enquanto ao seu lado, Vurón observava atentamente a floresta. Na cabine posterior, as companheiras preparavam lanches para os maridos. O veículo devorava os estádios rapidamente, embora o terreno fosse acidentado.

–Já era para encontrá-los, Lon. Estamos na metade do caminho.

–Estão atrasados. Algo deve ter acontecido.


Danai apareceu pela porta interior e lhes alcançou bebidas quentes e comida.


–Obrigado! – disse Vurón – estava fazendo falta.


Comeram com apetite prestando atenção ao trajeto, intrigados pela demora da
outra patrulha. Quando já tinham comido, Vurón percebeu um brilho na distância.

–Os veículos de Nig! Eles avançaram menos do que deviam.


Nig tinha-se movido 140 estádios, entanto que Lon avançara 420. Lon parou o
veículo. Desceram e foram ao encontro dos outros, pé em volta das máquinas.

–Quê houve, Nig? – disse Lon – por quê pararam aqui? Uma pane?

–Nada disso. Encontramos uma coisa. Venha comigo.


Os dois afastaram-se do grupo e dirigiram-se para a margem da floresta;
seguidos de longe pelos outros. Em determinado momento, Nig indicou o chão:

–Veja isso. Pegadas! Parecem de gente; menores que as nossas, calçados com botas. Quatro indivíduos. Vão ao nascente arrastando uma carga. Veja as marcas.

–Vamos atrás deles.


Percorreram 550 estádios, no areal, quando encontraram uma fera morta,

horrivelmente mutilada.

–Este animal só ataca se molestado – disse Borg, aproximando-se dos líderes.


–Não podemos imaginar o que aconteceu aqui – disse Lon – vamos continuar,
as pegadas não são muito recentes.

Retomaram a marcha. O sol estava alto e começava a fazer calor. As pegadas dos aliens seguiam em direção ao sol nascente o que facilitava encontrá-las. O veículo
de Lon teve uma falha mecânica, pouco depois. Dorn, o mecânico determinou:

–Isto vai demorar.

–Deixaremos seu veículo aqui e continuaremos com os nossos – disse Nig.


–Não vamos exagerar – disse Borg – As pegadas permanecerão aí. Vamos
consertá-lo! Pode fazer falta depois.

–Borg tem razão, rapazes – disse Xon – vamos descansar e comer alguma
coisa enquanto Dorn conserta esse motor.

–Está bem – concordou Lon com um suspiro – Estou muito excitado com isto.

O motor ficou pronto à tarde. Então reiniciaram a marcha. Ao anoitecer chegaram ao lago que limita a cidade pelo lado poente. Lon, Nig e Borg desceram, e por instantes admiraram o belo e claro espetáculo das luzes da Urbe, refletido na água.

Logo procuraram algum indício dos seres espaciais. Borg foi o primeiro em encontrar alguma coisa. Na beira do lago, havia um trenó, construído com madeira da floresta, no qual os aliens carregaram seus pertences.

–As mochilas dos aliens! – disse Borg – arrastaram algo para a água.


–Vejam este equipamento! Nunca vi nada parecido! – disse Nig.


–Não mexam em nada. Pode ser perigoso, não sabemos para que servem essas
coisas. – disse Lon e exclamou:

–Olhem para Poente! Um objeto voador!


–Deixem tudo como está e subam – disse Borg – há umas cavernas aqui perto
e poderemos ocultar os veículos!

A caravana dirigiu-se às rochas próximas. Rodando entre elas, após duas ou
três voltas à esquerda e direita, apareceu a entrada de uma caverna, oculta pela mata
rala do areal. Os veículos acenderam as luzes e desceram às profundezas. Logo se
detiveram. Lon, Borg e Nig desceram e deram ordem aos seus respectivos grupos de esperar aí mesmo, enquanto eles voltavam atrás.

–Há uma rocha alta, da qual podemos observar sem sermos vistos pelos
visitantes – disse Borg – sigam-me!

Escalaram a rocha e viram a nave que se aproximava com pavoroso barulho,
pairando sobre o areal úmido, perto dos pertences dos visitantes.

–Nos ocultamos a tempo – disse Nig.

As rodas da nave tocaram a areia suavemente. O barulho cessou, e abriu-se
uma portinhola, pela qual uma pequena escada foi desdobrada.

–Vão sair – disse Borg, sacando sua arma e engatilhando-a – estarei preparado
por via das dúvidas...

–Não dispare a não ser que sejamos descobertos.


–Não se preocupe, Nig. Já é noite e não seremos vistos.

Por fim os seres desceram na nave.

–Seres pequenos com um só olho! – disse Nig – a nossa brincadeira se fez real.


–Estão vestidos com roupa de pressão e o que parece um olho é o visor do
capacete. É evidente que não respiram o nosso ar – observou Lon.

–Silêncio! – disse Borg – se levantarem a vista; nos descobrem. Estão vendo as
pegadas dos seus amigos e já descobriram as nossas. Não as apagamos. Ah, não...! Já vêm para cá.

–Vão nos ver, Lon – disse Nig, alarmado.


–Receberão da minha medicina – disse Borg atirando-se de bruços no chão e
apontando sua arma – façam o mesmo.

–Nós três não podemos com doze – disse Lon – será melhor avisar os outros.


–A surpresa está do nosso lado – disse Nig, preparando sua arma.


–Estão voltando! – exclamou Borg.


Nas proximidades da margem, uma luz potentíssima chamou a atenção dos
visitantes, que correram à margem das águas, sem suspeitar que escaparam por muito pouco de ser os primeiros mortos no inicio da primeira batalha interplanetária da era moderna. Era uma pequena embarcação flexível com mais quatro visitantes a bordo, que prontamente desembarcaram, sendo recebidos pelos recém chegados. Em seguida, a embarcação foi recolhida, assim como os pertences que estavam no trenó, na beira d’água. Tudo foi colocado a bordo da astronave e os visitantes embarcaram nela; que cuspiu fogo e elevou-se verticalmente com apavorante rugido, ganhando altura e saindo disparada em direção Poente.

–Vamos para a caverna – disse Lon.
*******.

–Agora já sabem – disse Lon, de pé junto aos veículos iluminados pela própria
luz dentro da caverna – os aliens chegaram. Devemos comunicar às autoridades.

–Enquanto vocês não estavam, recebemos um comunicado da Urbe – disse Vurón – foi vista uma embarcação no cais de pescadores, com quatro seres, que após ver e serem vistos por algumas pessoas; embarcaram de novo e desapareceram. E se
dirigiram ao Poente. Acho que devem ter sua base do outro lado do canal.

–No ponto de convergência que marquei no mapa – comentou Ogn.

–Mostre-me esse mapa – disse Lon.


Lon marcou a linha do rumo da nave recém vista.


–Converge no mesmo local – disse Lon alvoroçado – Na base deles...!


–O que faremos, Lon?


–Dividir-nos, Nig. Danai vai à Urbe com Irp-Sur para buscar reforços num dos
veículos de vocês. Vurón e eu vamos com vocês no ponto de convergência, seguindo as pegadas dos visitantes. Nosso veículo está equipado para atravessar o canal. A Urbe está perto e elas poderão chegar sem dificuldade pela entrada Sul.

–Não seria melhor pedir reforços pelo rádio? – perguntou Xon.


–Não – respondeu Lon – Por três motivos; os visitantes podem estar ouvindo
as transmissões; quero afastar Irp-Sur e Danai, já que não sabemos o que vamos encontrar; e há coisas fantásticas demais para contá-las por rádio. Prefiro que Irp-Sur e Danai refiram pessoalmente ao meu pai o que vimos. Ele saberá o que deve ser feito.

–Vamos – disse Irp-Sur, subindo no veículo – temos uma missão a cumprir.


Quase à meia-noite, os exploradores alcançaram o ponto em que os visitantes
saíram da floresta. Na luz do holofote viram as marcas do trenó. Havia destroços na fauna mais temível do canal; uma trilha de árvores cortadas e feras mortas.

–Devem ter armas bem poderosas – comentou Ogn.


Os veículos marchavam com pouca dificuldade. A espessura da mata no meio
da noite não permitia ver nada, apenas os holofotes conseguiam romper a espantosa
escuridão, arrancando gritos de protesta dos habitantes da mata. Borg marchava na frente abrindo caminho com seu pesado veículo. Lon atrás, com seu veículo preparado para atravessar o canal. Quando chegaram ao barranco, se detiveram e desceram das máquinas. Sabiam que tinha amanhecido, embora ainda o sol estivesse às suas costas.

–Até aqui chegamos – disse Borg – meu veículo não avança mais.


–Podemos tentar atravessar com meu veículo – disse Lon.


–Verifiquem o local – disse Nig – parece que há marcas colocadas por eles.


Caminharam em volta e viram muitas pegadas, e também encontraram
sinalizações de madeira local, com marcas feitas pelos visitantes.

–Aqui há terra removida – disse Xon.


–Onde? – inquiriu Lon, parado em cima do veículo tentando ver do outro lado.


–Aqui. Eles enterraram alguma coisa e marcaram bem o local, com uma placa d
e madeira escrita com símbolos. Deve ser a escrita deles, sem dúvida.

–Tragam pás! – gritou Nig – vamos ver o quê enterraram os visitantes!
*******.

Tomara nunca o tivessem desenterrado.

Fazia muito que estava morto e estava em decomposição.

–Pelo corte de cabelo parece um soldado – opinou Dorn.


–Deve ser o patrulheiro desaparecido – disse Nig.


–Foi morto com objeto contundente. Não foram os visitantes.


–Como você sabe, Lon? – perguntou Nig.


–Está sem roupas e sem armas. Sem dúvida estava morto quando o acharam, e
após revistar-lhe, enterraram-lhe. Se tivesse sido morto por eles, não teriam tomado o trabalho de enterrá-lo. Eles não enterraram nenhuma fera. Além do mais, os visitantes não o matariam com um objeto contundente, devem ter sido os arborícolas do norte.

Sem dúvida veio boiando pelo canal e eles o encontraram.

–Tem sentido. Viram que era um ser civilizado e o enterraram em sinal de
respeito. Mas, enterrem-no de novo que está fedendo! – disse Borg.

*******.

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