Mundos Paralelos - Capítulo 2 - 2.7

(2.7)
19 de abril de 2013.
–Acorde às garotas, Marcos. Que coloquem os trajes e estejam no seu posto.

Esta f
oi a ordem de Aldo, já equipado na poltrona de pilotagem. Chegaram ao destino. O planeta vermelho puxava-os com força. Ele deveria usar toda sua perícia para não espatifar a nave como um meteoro na superfície.

–Estamos preparadas – respondeu Inge.
–Excelente – disse Aldo – Daremos uma volta ao redor do planeta para reduzir a velocidade e entrar em órbita.

Pelo visor dianteiro apreciava-se o planeta vermelho e apavorante com suas
manchas esverdeadas, desertos vermelhos e marrons, vales de areia enferrujada e
crateras, cicatrizes de velhos cataclismos.
Após duas voltas de freada, entraram numa
órbita baixa o suficiente como para apreciar a vista e registrá-la em vídeo.

–Vejam lá embaixo! – gritou Inge – luzes!
–Deve ser uma concentração urbana – observou Regina.
–Não sonhem, meninas, pode ser ilusão de ótica, gelo refletindo luz do sol...
–Luz de sol, Marcos? Estamos no lado noturno!
Touché, Bárbara. – respondeu Marcos – Vejamos o infravermelho.

Em seguida apareceram na tela as diferentes concentrações de calor, num
mundo que devia estar a temperaturas menores do que zero.

–Parece que este mundo está habitado, embora não saibamos por quem, se por nativos ou por aqueles alienígenas dos que roubamos tecnologia – observou Aldo.
–Pelo jeito ficaremos mais tempo em órbita do que pensamos, devemos analisar isto. Parece que há três concentrações de calor no lado noturno. Do outro lado ainda não há como saber até a freada final – disse Marcos.
–Deveremos procurar um lugar onde realmente não haja ninguém para descer
em segurança – interveio Boris.
–Isso mesmo – disse Aldo – quando acharmos o local; soltamos o container em posição geo-estacionária, como satélite de observação e abastecimento.
–Não deveríamos dizer “Marte-estacionária”, Aldo? –brincou Inge.

Todos riram, quebrando a tensão nervosa.
–Ponto para você, Inge. Mas o correto seria dizer Órbita Clarke.
–Obrigada; Marcos. Por quê Clarke?
–A órbita geo-estacionária foi idéia do escritor Arthur C. Clarke no fim dos anos quarenta, ou coisa assim, quando nem sequer se pensava no assunto.
–Há um local afastado no lado diurno, com temperatura uniforme – observou Aldo – Ares Vallis, equador, ao leste de Planitia Basin, onde desceu uma sonda
Viking no século passado, quase quarenta anos atrás.
–Aqui as fotos daquela ocasião – disse Inge, colocando-as na tela.
–Areia e pedras – observou Boris – mas isso pode até ser forjado.
–Há umas manchas esverdeadas que parecem de vegetação e poderia ser um bom local para a descida – disse Aldo.
–Também há uma mancha verde que vem do norte, estreitando-se em direção sul. Ao leste, há um deserto e um brilho que poderia ser água.
–E luzes, Marcos – acrescentou Aldo.
–Ao oeste há um descampado – prosseguiu Marcos – Ao sul, em Paraná Vallis há montanhas e logo após, uma grande concentração de luz e calor.
–Uma cidade? – perguntou Regina esperançada.
–Talvez – respondeu Aldo, encarando-a muito sério.
–Deste lado – observou Marcos – há duas concentrações de calor, podem ser cidades, vulcões, ou coisa assim.
–Ou coisa assim – repetiu Aldo. – Não é muito conclusivo, irmão.
–Do outro lado, há três – disse Marcos ignorando a observação. – Por isso sugiro este lado, onde inclusive está amanhecendo. Além do mais é equador, ideal para deixar os satélites de comunicação triangulando o planeta.
–Parece boa idéia – observou Lúcio – contaremos com bastante luz do dia para trabalhar e montar o acampamento antes da noite.
–Aqui! – exclamou Inge colocando o cursor num ponto da tela – A 72 kms ao norte do equador, com uma mancha verde de quarenta kms de largura entre nós e as luzes suspeitas do leste; e uma cadeia de montanhas baixas entre nós e as luzes
suspeitas do sul! É sem dúvida um bom local, Aldo, não há concentrações de calor. Parece que não há ninguém aí, e Boris ficará feliz com isso, e ainda é noite no local.
–É uma boa hora para descer, Aldo – disse Marcos.
–Claro. Antes vamos subir para soltar... Quanto Inge?
–Mais onze mil quilômetros, Aldo.
–Isso mesmo. Vamos soltar o container e os foguetes auxiliares sobre o local. Lúcio; prepare-se para lançar dois satélites quando eu avisar. Deixaremos este planeta triangulado. O container será o satélite principal atrelado nos outros que ficarão em 60 graus. Assim poderemos nos comunicar em todo o momento pelos celulares dos capacetes, em qualquer local que estivermos.

A Antílope soltou o container, cujas antenas abriram-se como guarda-chuvas e
os painéis solares desdobraram-se como asas de um pássaro fabuloso. Ao inverso, as antenas e painéis da nave recolheram-se aos compartimentos para que nave retomasse forma aerodinâmica.
Na última órbita, cada um dos dois satélites de apoio foi lançado, na posição correta, formando; com o container; um triângulo eqüilátero em torno ao planeta. Quando o último satélite foi colocado em posição, Aldo ligou os motores principais e começou a espiral de descida. Inge disse, alarmada:
–Aldo! Registrei nove objetos em órbita em vez de três.
–Como pode ser isso? – exclamou Lúcio, preocupado com a segurança.
–Defina, Inge – ordenou Aldo.
–O container, os dois satélites e nós somos quatro, cinco são misteriosos.
–Duas devem ser as luas Phobos e Dheimos, Inge – observou Marcos.
–O computador já as considerou – replicou a jovem – o sistema está à procura da identificação. O primeiro deles está numa órbita mais alta do que a nossa.
–Vou subir – disse Aldo, ligando os tubos inferiores e acelerando.
–Há identificação – disse Inge – são duas sondas antigas do século passado, acho que inativas; e duas modernas. O quinto objeto é pequeno e desconhecido.
–Estão transmitindo?
–Só as duas mais modernas, e na maior atividade, Aldo. Lançadas pela Nova Ordem Mundial. Estão nos monitorando na maior desfaçatez!
–Lúcio, o canhão! Vamos destruí-las por invasão de privacidade.

Lúcio disparou na primeira. O laser atravessou-a, produzindo escape de gás e perda de estabilidade, com o que girou numa macabra dança sem controle. Lúcio
disparou outra vez e atingiu o depósito de combustível, com o que a sonda explodiu no silêncio do espaço. Inge logo disse:

–A outra está a bombordo cinco graus, marco três. Acelere, está a dez mil kms.
–Como está o éter? – perguntou Aldo após explodir a segunda sonda.
–Parou. As outras duas não estão transmitindo.
–Certo, Inge, mas vamos destruí-las também. Não quero nada deles em volta.

Depois de destruir todas as sondas inimigas Aldo disse:


–Onde está o outro objeto, Inge, o “pequeno e desconhecido?”.

–A estibordo, oito graus, marco sete – respondeu a jovem.
O objeto, um pedaço de metal, podia ver-se à simples vista.
–Mas... O que é isso? – perguntou Marcos.
–Inge! – exclamou Aldo – O computador sabe o que é isso?
–Está procurando.

O objeto era pequeno, em forma de cilindro. Cinco metros de comprimento e
um de largura. O sensor indicava que era metálico e vazio por dentro.

–Parece uma armadilha, amigos. Pode ser uma bomba que eles mandaram para
esperar-nos – observou Lúcio, sempre desconfiado.
–Ligue o escudo e dispare o canhão – ordenou Aldo.

Lúcio disparou e o laser o atravessou o objeto sem provocar explosão.

–Parece um tanque de combustível vazio – disse Lúcio por fim.

–Pode ter pertencido a uma sonda – observou Marcos.
–Sim, pode ser – concordou Aldo – Será que vale a pena investigá-lo de perto?
–Eu não acho, Aldo. Por mim, soltava-lhe um míssil – disse Lúcio.
–Eu posso ir lá – disse Boris – é obvio que essa coisa está morta.
–Sozinho não – respondeu Aldo.
–Vou com ele – disse Marcos.
–Dez minutos. Usem as mochilas de impulso – ordenou Aldo – Lúcio, dispare
outra rajada para garantir que essa coisa está bem morta.
–Acho loucura, mas aí vai!

Equipados com impulsores, Boris e Marcos foram até o objeto misterioso.


–É um tanque de aço... Combustível? Muito antigo, pela sujeira grudada.
–Há uma coisa escrita embaixo da cobertura de pó sideral – disse Boris.
–O que? – Aldo estava visivelmente nervoso.
–Aqui diz Wasser, em letras brancas... Góticas! Água em alemão!
–Água? – Aldo estava agora estupefato.
–Sim – confirmou Boris, raspando o pó com a faca padrão – embaixo está escrito Haunebu III, também em letras góticas. O que significa? Regina? Nico?
–Não sei que significa – respondeu o médico alemão.
–Nem suspeito – disse Regina apavorada.
–Alguém explique isto – disse Aldo – Como foi que isso chegou aqui?
–Ouvi algumas lendas – observou Lúcio.
–Deixem-no onde está – ordenou Aldo – e voltem a bordo.
–Acho bom não mencionar isto nos relatórios – observou Marcos.
–Concordo – disse Aldo.

Boris e Lúcio retornaram a bordo e a Antílope começou a descida.

–Lá vamos nós...! – exclamou Regina, tremendo de excitação.


A nave inclinou a ponta para abaixo e acelerou.
Segundos depois entrava na
atmosfera. O atrito fez brilhar de vermelho vivo as bordas de ataque das asas e em seguida ouviu-se o barulho do atrito, abafado pelas grossas paredes de vitrotitânio.

–Altura – pediu Aldo, com a vista fixa no visor dianteiro.
–Sete mil – respondeu Marcos, com os olhos fixos nas telas.
–Velocidade cinco Mach e diminuindo. A estrutura começa a esfriar. Pressão do gaseificador normal, a estrutura resiste. Não há goteiras.
–Altura cinco mil. Velocidade três Mach. Pressão, dez mil unidades.
–Estabilizar Pressão.
–Altura três mil. O que disse o radar?
–Faltam 280 kms para o ponto de descida.
–Reduzir velocidade – disse Aldo, acelerando os freios.
–Altura mil metros – anunciou Marcos.
–Vejo pontos luminosos a bombordo – anunciou Eva Klinger.
–Também vi – acrescentou Regina.
–Devem ser da cidade que vimos de cima – observou Inge.
–Esperemos que eles não nos vejam – disse Bárbara.

Mas não era momento para ponderar. A manobra exigia atenção.


–Altura. – disse Aldo, atento à paisagem por baixo deles.

–Oitocentos metros. Velocidade, zero ponto nove Mach. Precisamos diminuir.
–Mapa, Inge!
–Faltam 100 kms, Aldo – Vamos passar pela mancha escura, parece ter em torno de 45 kms de largura e já não dá para ver o fim aos lados.
–Aldo, reduza a velocidade – disse Marcos – já falta pouco.

Aldo ligou novamente os freios da proa e a nave estremeceu.

–Estamos a trezentos kph. Além da faixa escura, há colinas, terreno ondulado.

–Parece que chegamos. Buscarei onde pousar.
–Pode voar em círculos sobre aquele setor que parece liso e plano, Aldo.
–Certo Marcos. Baixar as rodas.

Como um helicóptero; a Antílope pousou, criando nuvens de poeira com os
manobradores atmosféricos e as rodas tocaram a vermelha areia.

–Chegamos. Desligar motores, Marcos.

*******.

Mundos Paralelos ® – Textos: Gabriel Solis - Arte: André Lima.

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