Mundos Paralelos - Capítulo 2 - 2.2

(2.2)
Época Atual - Na Jornada para Marte.
A seis dias da partida; no período que na Antártica seria noite; de plantão na ponte; Boris e Regina com as luzes reduzidas para ver melhor as estrelas; ouviam música clássica em volume baixo para não acordar os camaradas e conversavam sobre o que aconteceria com suas vidas daí em diante.

–Teremos que viver talvez para sempre lá – disse ela, pensando em que nada mais a segurava à Terra após a morte dos seus pais.

Regina, 24 anos, italiana de Veneza, corpo de modelo, usava o cabelo loiro cortado à la garçom. Seu inteligente olhar azul era penetrante. Estava vestida como Boris, com roupa interior de estar: camiseta branca de algodão; calção branco; meias soquetes brancas e sapatilhas leves de lona e borracha sintética.

–Talvez – disse ele, brasileiro, 25 anos, atlético, cabelo preto e olhos azuis.

Era da quarta geração dos chamados russos brancos emigrados ao Brasil no começo do século anterior. Se bem sua companheira Regina era a primeira vez que saía ao espaço, Boris já o tinha feito outras vezes.

–E teremos nossos filhos lá.

–Sim. Serão marcianos, Regina. Como no livro de Bradbury.

–Não me importará ter filhos em Marte, longe do Grande Irmão.

–Agora terão um futuro, coisa que na Terra é impossível, marcados como meu pai marcava seus bois, lá no Rio Grande.

–No livro de Bradbury os terrestres mataram os marcianos com um vírus, Boris. E se a recíproca for verdadeira?

–É um risco que teremos que correr. Claro que tomaremos precauções...

–Como é Marte? – ela mudou de assunto para esquecer sua recente perda.

–Como assim?

–Sabes que minha área é outra. O que sabemos sobre Marte?

–Bom... É menor do que a Terra... Seu diâmetro é de 6.900 kms.

–E seu ano?

–Mais ou menos 687 dias dos nossos.

–Quase o dobro do nosso, terei doze anos lá. Ótimo! E seu dia?

–24 horas, 37 minutos e 23 segundos.

–Quase como a Terra... Haverá vida lá?

–Pois é, querida. Não sabemos se há vida natural. Se a houvesse, seria bom para nós, porque isso indica que nós também poderíamos sobreviver lá. Mas por outra
parte se esta vida fosse hostil, teríamos que tomar o planeta à força, lutar.

–Isso me assusta um pouco, Boris.

–Querida; você é uma mulher de ciência...

–Parece mentira que eu, uma psicóloga, não saiba explicar o quê me assusta, acho que deve ser a incerteza do desconhecido.

–Minhas apreensões são de outra ordem, se já encontramos alienígenas na Lua,
nada impede de encontrá-los em Marte, Regina...

–Sim. Também tinha pensado nisso...

–E desta vez pode ser que resolvam nos enfrentar.
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